Certamente,
todos nós, já nos deparamos com alguém que apresenta algum tipo de
tique, vulgarmente conhecido como tique nervoso. Mas é do conhecimento
de poucos que pode tratar-se de uma doença neurológica conhecida como o
Transtorno de Tourette, e não apenas uma manifestação de ordem emocional
como pensavam os psicanalistas até meados do século XX, período em que
foram feitos estudos com o medicamento haloperidol que conseguia atenuar
os tiques, deixando claro que o problema seria de ordem neurológica.
Se
os adultos sofrem com a síndrome, as crianças sofrem ainda mais
principalmente no âmbito escolar onde são criticadas por colegas, mas
não raramente também são criticados pelos membros da sua família.
Esta
experiência foi vivenciada por Brad Cohen, portador da Síndrome de
Tourette, ou SGT ou ainda ST, como é conhecida. Brad, após anos sofrendo
de um “mal” desconhecido, e evoluindo para um final feliz com a sua
“amiga” como ele chamava sua síndrome, resolveu contar sua história no
filme O primeiro da Classe, um filme emocionante, um exemplo de
superação e que vale a pena ser visto.
Jimmy Wolk (à esquerda ator que interpretou Brad) e Brad Cohen à direita
O
filme, inspirado em fatos reais, gira em torno da vida de Brad Cohen e
de sua doença, que lhe trouxe uma série de complicações na sua vida
escolar, período em que sofreu humilhações pelos colegas e professores,
devido aos seus tiques motores, próprios do Transtorno de Tourette. O
transtorno pode se manifestar em qualquer parte do corpo (pernas,
barriga, braços, etc), mas em Brad ela se concentrava na região da
cabeça e rosto cuja manifestação da doença é mais comum, caracterizada
por movimentos bruscos, repetidos e tiques vocálicos. Em sala de aula
ele não conseguia se controlar, pois os movimentos da síndrome são
involuntários e era obrigado, pela professora, a se desculpar diante da
turma e prometer que não repetiria os altos sons vocálicos que tanto
incomodavam a professora e fazia as outras crianças rirem dele. Foi
encaminhado ao serviço de psicologia, sem sucesso, pois o terapeuta não
conhecia a doença e atribuia seus tiques a questões emocionais.
Em
casa, Brad também era pouco compreendido por seu pai, que sentia-se
envergonhado com seus sons repetidos, e chegava a agredi-lo verbalmente o
que afetava ainda mais sua auto-estima.
Mas Brad
teve um anjo em sua vida, sua mãe, que, inconformada com a falta de
resposta para estas manifestações, resolveu realizar uma busca nos
livros da biblioteca até que encontrou a explicação para o problema de
seu filho: Transtorno de Tourette. Tudo se encaixava! Finalmente ela
havia encontrado a resposta para suas dúvidas e surgiu uma ponta de
esperança na tentativa de ajudar Brad antes que ele fosse massacrado por
uma sociedade que não repeitava as diferenças.
O
que esta descoberta modificou em sua vida? Tudo! A partir daí ele tomou
conhecimento que se tratava de um distúrbio neurológico, que ele não
fazia propositalmente, como julgava seu pai, e que ele poderia se
defender dizendo às pessoas porque fazia aqueles sons “engraçados” como
ele dizia. Foi assim que, diante de mais uma humilhação em sala de aula,
o diretor da escola, sensibilizado com sua situação, resolveu pedir que
Brad declasse em público num grande auditório, porque fazia aqueles
sons e qual era o nome do seu problema. A partir daí ele passou a ser
melhor entendido e sua vida escolar ficou mais fácil.
Mas
seus problemas ainda não haviam acabado, até porque o Transtorno de
Tourette não desaparece. Brad teria agora que enfrentar uma nova etapa
de sua vida para conseguir alcançar o sonho de ser professor e para
tanto precisava entrar numa universidade. Felizmente, ele já tinha
diagnóstico, e foi apoiado por lei para realizar a prova em local
isolado, de maneira a não atrapalhar seus colegas e ele não se sentir
constrangido.
Ao concluir sua faculdade Brad
precisaria enfrentar mais um e importante desafio que seria determinante
em sua vida: conseguir um emprego como professor. Seu desejo era poder
fazer uma educação diferente daquele que havia recebido, pois havia sido
muito mal compreendido por seus professores.
Apesar
de seu histórico escolar invejável, com notas excelentes, foi rejeitado
por muitas instituições, que ao recebê-lo para a entrevista de
trabalhao, estranhavam seus tiques e não achavam que ele se adequaria ao
cargo de professor. Mas sua persistência e força de vontade não o fez
desistir fácil, até que conseguiu a oportunidade de lecionar na escola
Mountain View Elementary School, em Cobb Country, Georgia, com alunos de
pré-escola.
Brad fez a diferença naquela escola,
recebeu o Primeiro Prêmio Professor do Ano da Georgia, realizando uma
pedagogia diferente, respeitando as diferenças, ajudando inclusive
crianças que necessitavam de atenção especial. Ele bem sabia pelo que
estas crianças passavam.
Antes do filme Brad
havia lançado um livro O Líder da classe: como a Sindrome de Tourette me
fez ser o professor que nunca tive, publicado em 2005, ganhador do
prêmio Melhor livro educativo do ano. A partir daí Brad passou a
aparecer em shows, dando entrevistas em programas como Oprah, motivando
aos portadores a nunca desistirem de seus sonhos, fundando, inclusive, a
Fundação Brad Cohen, uma organização sem fins lucrativos que ajuda a
arrecadar fundos para grupos que mantém programas que cuidam de crianças
com a síndrome.
O livro virou filme que tem
emocionado milhões de pessoas e é um exemplo de superação inclusive para
as pessoas que não possuem a síndrome, pois se beneficiam da mensagem
de nunca desistirem diante das dificuldades.
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